Hoje precisei de ficar sozinha, não conseguia ir ás aulas, ver aquelas pessoas que se cruzam comigo todos os dias era impensável. Levantei-me cedo, pus os phones e fui fazer uma caminhada, precisava de pensar em tudo mas acho que não consegui, parece que tinha a mente em branco e que tinha esmiuçado todos os meus pensamentos, de tal maneira que naquele momento eles já não existiam. Sentei-me numa ponte e fiquei horas a ver a maré subir, o meu telemóvel enchia-se de mensagens e telefonemas aos quais eu não queria dar resposta. Entre o simples pescador, uma criança inocente e as centenas de pessoas que iam por ali passando, as horas também essas passavam e eu sem vontade de ir embora, estava tudo tão calmo e os problemas estavam tão longe. Eu já não sabia o que devia fazer, estava no fim da linha. Já tinha pedido ajuda mas parece que todos me ignoravam, não havia ninguém que me estendesse a mão, acho que ninguém tinha consciência do que estava a acontecer...nem eu. Mas nesse dia recebi uma chamada pela qual eu tinha desistido de esperar, era a mão estendida que eu precisava, que tinha pedido e que "tarda, mas não falha". Tive a primeira consulta, dali a menos de uma semana. E todas as 4as feiras lá ia eu a correr depois das aulas sem explicar a ninguém onde ia. Quando saia de lá sentia-me sempre melhor. Ao inicio era tudo estranho, tudo novo, encontrava pessoas estranhas, com aspectos deploráveis, assisti a coisas e reacções de pessoas fora de si que me fizeram ter medo, mas no fundo eu sentia-me protegida, sabia que não me ia acontecer nada porque ali eu estava segura. Hoje em dia ainda lá passo algumas 4as feiras, com menos regularidade mas com o mesmo efeito tranquilizador. Ainda há muitas coisas em mim por resolver, mas sei lidar melhor com elas. A minha relação com os outros tornou-se mais fácil, mas a independência mantém-se, nunca pude depender de ninguém, sempre tive de me desenrascar sozinha. Mas fiz grandes mudanças e devo isso a uma grande pessoa, Vanda Lopes!
Da última vez que lá fui reparei numa senhora enfraquecida, extremamente magra que cambaleava e tremia a cada passo que dava, pediu uma consulta com urgência, aparentava estar extremamente nervosa, depois dela sair o meu olhar perdeu-se e senti-me vaguear impressionada com o que tinha visto. Sem dar conta a senhora voltou para trás e com a sala cheia, foi a mim que ela abordou, pediu-me dinheiro para um café. Perdida nos meus pensamentos reagi atordoada e num impulso acompanhei-a ao café da esquina. Ela tão agradecida sensibilizou-me com a sua história e tenho de a partilhar com vocês, pois nunca tinha assistido tão de perto a estes dramas da vida real. Há dias que ao pôr qualquer coisa no estomago vomitava, alimentava-se de café, bebida e cigarros. No dia anterior tinha sido o funeral do marido e desde a três dias atrás estava a viver na rua porque não tinha dinheiro para se manter na casa em que vivia.
Paguei o café, ela não quis mais nada, fiz-lhe uma festa e despedi-me. Chama-se Margarida...
Um dia conto-vos mais sobre as pessoas que lá vi e a tudo o que assisti e, talvez, sobre mim mesma.
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Kisses *C*